A Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL)
começou a 'abrir mata' para traçar uma trilha que deve expandir os
negócios do Brasil com a China no setor lácteo. Este que é um importante
parceiro internacional em importantes commodities como a soja e a
proteína animal, o país asiático pode ser um divisor de águas para o
leite nacional.
Há cerca de dois anos, a China passou a
aceitar produtos lácteos vindo do Brasil, mas fez uma série de
exigências burocráticas e sanitárias para receber o produto. Em
novembro, a CCGL conseguiu ultrapassar essas barreiras e fez história ao
exportar um palete com diferentes tipos de leite em pó para o gigante
asiático.
"Foi um volume pequeno, um palete
apenas, não sei exatamente o peso que deu. Foi leite em pó em todas as
especificações. Esta primeira vez foi para conhecermos este mercado, ter
ideias dos custos de operação. O caminho ainda não está limpo. Foi uma
primeira exportação para mostrarmos o produto brasileiro”, relata Caio
Vianna, presidente da CCGL.
A cooperativa embarcou amostras de leite
em pó integral, instantâneo, desnatado, semidesnatado e sem lactose,
com a esperança de que a qualidade do lácteo produzido no País e, acima
de tudo, no Rio Grande do Sul, seja reconhecida pelos chineses.
"Nesse leite exportado para lá foi
necessário identificarmos produtor por produtor, rastrear leite desde o
dia que saiu da vaca até chegar na indústria. Outra restrição, que nem
todos produtores podem cumprir, é que a propriedade precisa estar
certificada como livre de brucelose e tuberculose. Só foi possível botar
esse leite na China porque temos 60% das propriedades cooperadas
certificadas”, afirmou Vianna.
São diversos os entraves burocráticos
que precisam ser superados nesses primeiros negócios do setor com a
China. São muitas exigências legais, sanitárias, burocráticas,
tarifárias e logísticas para conseguir-se concretizar a operação para o
outro lado do planeta.
Caso o Estado e o País consigam superar
estes entraves e concretizar um ritmo de negócios estável com os
chineses, pode ser um divisor de águas para o setor.
“No RS, tínhamos uma dificuldade muito
grande de vender. Antes de 2003, os agricultores falavam que o governo
precisava estocar o trigo, não havia liquidez, não havia comprador na
safra. A partir de então, começou a se exportar trigo. A Cooperativa
Gaúcha hoje exporta 1,5 milhão de toneladas de trigo, e, se o produtor
quiser vender 100% da sua safra, tem comprador e tem dinheiro pra pagar.
Quando se atinge reconhecimento internacional, temos o mercado externo
para balizar, e ainda tem o mercado interno. Temos a garantia de que o
produtor pode produzir que vai conseguir vender”, conta Vianna.
O futuro do mercado lácteo brasileiro
com a China deve ser focado no leite em pó, leite condensado e no
queijo, que são produtos concentrados e mais fáceis de serem
transportados. Hoje, com a tecnologia desenvolvida no Rio Grande do Sul,
é possível embarcar leite em pó com validade de um ano sem necessidade
de resfriamento. Mas, para que de fato exista um mercado externo
consolidado no setor, é necessário fazer alguns ajustes legislativos
junto aos ministérios de Agricultura e Relações Exteriores.
“Nós buscamos equivalência em realização
à Nova Zelândia, que é o país que mais exporta lácteos hoje para a
China, e tem uma alíquota menor para exportação. Permanecendo essa
alíquota diferente, vai ser difícil termos um mercado externo sólido”,
argumenta o presidente da CCGL.
Este primeiro negócio firmado com os
chineses foi essencial para que se identificar os principais entraves,
os custos de operação - que esbarra na taxa elevada para o frete
marítimo que deve permanecer em 2022 - e as formas de como o Brasil pode
ganhar mais este mercado. “Aí sim, vamos ter condições para os negócios
fluírem em volumes maiores”, prevê Vianna.
*FONTE: JORNAL DO COMÉRCIO